Qual farsa Serra quer?
O que fica claro, olhando desde a Argentina, é que José Serra associa o Mercosul a um valor negativo. Para ele, por outro lado, seria positivo que o Brasil firmasse muitos tratados de livre comércio. Cabe lembrar que o Mercosul não é o paraíso em boa medida porque foi esvaziado de política pela dupla FHC-Menem com a ajuda de Domingo Cavallo, o ministro argentino que adorava as áreas de livre comércio como Serra. O Mercosul é um resultado concreto da construção regional. Outros são a Unasul e o Conselho de Defesa Sulamericano. E a chave dessa estabilidade é a sólida relação entre Argentina e Brasil. O artigo é de Martin Granovsky, analista internacional argentino e colunista do jornal Página 12.
Martin Granovsky (*), na Carta Maior
Peço um empréstimo aos irmãos brasileiros: poderiam nos enviar um manual para entender Serra? Primeiro ele disse que o Mercosul é uma “farsa”. Depois defendeu a “flexibilização” do Mercosul. Como se flexibiliza uma farsa? Mistério. O que fica claro, olhando desde a Argentina, é que José Serra associa o Mercosul a um valor negativo. Para ele, por outro lado, seria positivo que o Brasil firmasse muitos tratados de livre comércio. Segundo Serra, o Brasil não pode fazê-lo, justamente, por culpa das barreiras que seriam impostas pelo Mercosul.
Esqueçamos o mistério. Segundo dados do Instituto para a Integração da América Latina (Intal), durante 2009 o comércio internacional desabou. As exportações brasileiras para a Argentina, Uruguai e Paraguai, seus sócios do Mercosul, caíram 27,2% e as importações diminuíram 12,2%. Mas um olhar histórico é mais interessante:
Em 2008, quando a crise internacional já havia começado, as exportações cresceram 25,3% em relação a 2007, e as importações subiram 28,5%.
Mesmo em meio a maior crise desde os anos 30, o valor do intercâmbio com o Mercosul foi de 28,935 bilhões de dólares em 2009. Quase igual à cifra registrada em 2007, antes da crise: 28,978 bilhões de dólares.
Para o Brasil, o Mercosul representou, em 2009, cerca de 10,3% de suas exportações e importações. Nem o Brasil nem a Argentina sofreram em 2009 como a Grécia sofreu, para citar o caso mundial de um país que agora tem que seguir o caminho da contração fiscal e econômica, sofrido já pelos brasileiros com Fernando Henrique Cardoso e pelos argentinos com Carlos Menem. Mas a Grécia está longe de nós. Vejamos um caso mais próximo: o México sofreu mais porque cerca de 80% de seu intercâmbio depende da relação comercial com os Estados Unidos. O Brasil e a Argentina foram menos golpeados pela débâcle e não precisaram de nenhum Tratado de Livre Comércio (TLC) para seguir com sua estratégia de comércio diversificado, entre eles ou com a China.
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