A eleição de Barack Obama à presidência dos EUA, prenhe de significações auspiciosas, trouxe, mundo afora, esperança aos setores sociais mais progressistas.
Afinal, ao mesmo tempo em que alegadamente significava o fim do imperialismo bélico da “era Bush”, culminava, com a chegada de um negro à Casa Branca, como episódio-símbolo da consumação da luta pelos Direitos Civis que teve seu auge nos anos 60.
A jovialidade do candidato, seu sorriso fácil, o otimismo contagiante do “Yes, we can” que se seguiu ao outono neoliberal, tudo parecia indicar que até um revival, em menor escala, do otimismo inebriante do pré-1968 seria possível.
Tratava-se, hoje se sabe, de uma mera ilusão. Como fica cada vez mais evidente, o acordo que, em nome da governabilidade, o presidente se viu forçado a fazer com a linha-dura do partido democrata, encarnada por Hillary Clinton – que se torna, cada vez mais, uma figura trágica, que parece ter direcionado todas as frustrações repressadas de esposa publicamente traída à acumulação de um poder tão intransigente quanto insensível - acabou por gerar não o fim dos falcões bélicos republicanos, mas tão-somente sua substituição por seus iguais democratas. (Leia no ótimo blog de Arnobio Rocha, uma reconstituição detalhada de tal processo)
O retorno do oprimido
Dois episódios, graves e recentes, parecem confirmar tal premissa. O primeiro é a reação intempestuosa dos EUA ao acordo Brasil-Irã-Turquia. Comandada pela Secretária de Estado – que, na prática, desautorizou o próprio presidente Obama -, a tratativa em prol da adoção de sanções contra o Irã, acompanhada da retórica belicista, contraria esforços em prol da paz saudados pela maioria da comunidade e da imprensa internacionais.
Foi como se o sorriso de dentes brancos e alinhados de Obama uma máscara se revelasse, dando lugar à verdadeira face da nação – a do enrugado imperialismo bélico, invasor e antidemocrático, com um desprezo pela vida humana que só rivaliza, em intensidade, com seu grau de ganância materialista.
Nem bem as pessoas de bem se recuperaram do susto ante a carranca, a brutalidade patrocinada pelos EUA uma vez mais se manifestou, na forma do inadmissível ataque do exército israelense a um comboio marítimo pacífico, que levava víveres e remédios ao campo de concentração, digo, à Faixa de Gaza. No mínimo, nove pessoas morreram.
A reação dos EUA, que sistematicamente boicotam qualquer ação contra o terrorismo de estado israelense? O de sempre: declarações afetando indignação, mas não acompanhadas do anúncio oficial da adoção de nenhuma medida para punir o prolongado banho de sangue - entre forças covardemente desiguais - no Oriente Médio.
Imperialismo brazuca
No Brasil, por sua vez, presencia-se o retorno de um discurso lumpen-imperialista que julgávamos condenado às teias de aranha da história. Vocalizado por um cada vez mais desequilibrado José Serra, apela, a um tempo, ao imaginário preconceituoso que ainda predomina, em nossa sociedade, em relação aos povos andinos e à caricaturização que nossa imprensa faz de Evo Morales – “amigo de Lula” - para culpar a Bolívia pelo tráfico de cocaína no Brasil e, de quebra, atingir a candidatura Dilma.
Se o caso fosse mesmo acusar os países vizinhos pelo tráfico no Brasil – negligenciando, como sempre, o quanto nossa própia estrutura socioeconômica colabora para tal - o candidato tucano deveria endereçar-se não ao “índio” esquerdista Morales, mas ao seu colega colombiano Álvaro Uribe, direitista e branquinho, cujo país exporta três vezes mais cocaína ao Brasil do que seu vizinho andino.
Porém, muito mais preocupante do que essa diatribe eleitoral desesperada de Serra – que subitamente deixou de ser o pós-Lula – é a soma de sua postura destrutiva em relação ao Mercosul e belicista quanto aos nossos vizinhos sul-americanos com a defesa desabrida que faz do realinhamento automático com os EUA.
Pois, no momento em que Brasil começa a se impor de forma mais visível no cenário internacional, com os avanços e retrocessos que tal condição provoca numa arena geopolítica altamente competitiva, o retorno a uma postura submissa em relação aos EUA significaria não apenas um estímulo indevido ao imperialismo desumano do qual sua história é composta, mas a renúncia a nosso direito por reafirmarmo-nos como nação livre e autônoma no cenário internacional.
Afinal, ao mesmo tempo em que alegadamente significava o fim do imperialismo bélico da “era Bush”, culminava, com a chegada de um negro à Casa Branca, como episódio-símbolo da consumação da luta pelos Direitos Civis que teve seu auge nos anos 60.
A jovialidade do candidato, seu sorriso fácil, o otimismo contagiante do “Yes, we can” que se seguiu ao outono neoliberal, tudo parecia indicar que até um revival, em menor escala, do otimismo inebriante do pré-1968 seria possível.
Tratava-se, hoje se sabe, de uma mera ilusão. Como fica cada vez mais evidente, o acordo que, em nome da governabilidade, o presidente se viu forçado a fazer com a linha-dura do partido democrata, encarnada por Hillary Clinton – que se torna, cada vez mais, uma figura trágica, que parece ter direcionado todas as frustrações repressadas de esposa publicamente traída à acumulação de um poder tão intransigente quanto insensível - acabou por gerar não o fim dos falcões bélicos republicanos, mas tão-somente sua substituição por seus iguais democratas. (Leia no ótimo blog de Arnobio Rocha, uma reconstituição detalhada de tal processo)
O retorno do oprimido
Dois episódios, graves e recentes, parecem confirmar tal premissa. O primeiro é a reação intempestuosa dos EUA ao acordo Brasil-Irã-Turquia. Comandada pela Secretária de Estado – que, na prática, desautorizou o próprio presidente Obama -, a tratativa em prol da adoção de sanções contra o Irã, acompanhada da retórica belicista, contraria esforços em prol da paz saudados pela maioria da comunidade e da imprensa internacionais.
Foi como se o sorriso de dentes brancos e alinhados de Obama uma máscara se revelasse, dando lugar à verdadeira face da nação – a do enrugado imperialismo bélico, invasor e antidemocrático, com um desprezo pela vida humana que só rivaliza, em intensidade, com seu grau de ganância materialista.
Nem bem as pessoas de bem se recuperaram do susto ante a carranca, a brutalidade patrocinada pelos EUA uma vez mais se manifestou, na forma do inadmissível ataque do exército israelense a um comboio marítimo pacífico, que levava víveres e remédios ao campo de concentração, digo, à Faixa de Gaza. No mínimo, nove pessoas morreram.
A reação dos EUA, que sistematicamente boicotam qualquer ação contra o terrorismo de estado israelense? O de sempre: declarações afetando indignação, mas não acompanhadas do anúncio oficial da adoção de nenhuma medida para punir o prolongado banho de sangue - entre forças covardemente desiguais - no Oriente Médio.
Imperialismo brazuca
No Brasil, por sua vez, presencia-se o retorno de um discurso lumpen-imperialista que julgávamos condenado às teias de aranha da história. Vocalizado por um cada vez mais desequilibrado José Serra, apela, a um tempo, ao imaginário preconceituoso que ainda predomina, em nossa sociedade, em relação aos povos andinos e à caricaturização que nossa imprensa faz de Evo Morales – “amigo de Lula” - para culpar a Bolívia pelo tráfico de cocaína no Brasil e, de quebra, atingir a candidatura Dilma.
Se o caso fosse mesmo acusar os países vizinhos pelo tráfico no Brasil – negligenciando, como sempre, o quanto nossa própia estrutura socioeconômica colabora para tal - o candidato tucano deveria endereçar-se não ao “índio” esquerdista Morales, mas ao seu colega colombiano Álvaro Uribe, direitista e branquinho, cujo país exporta três vezes mais cocaína ao Brasil do que seu vizinho andino.
Porém, muito mais preocupante do que essa diatribe eleitoral desesperada de Serra – que subitamente deixou de ser o pós-Lula – é a soma de sua postura destrutiva em relação ao Mercosul e belicista quanto aos nossos vizinhos sul-americanos com a defesa desabrida que faz do realinhamento automático com os EUA.
Pois, no momento em que Brasil começa a se impor de forma mais visível no cenário internacional, com os avanços e retrocessos que tal condição provoca numa arena geopolítica altamente competitiva, o retorno a uma postura submissa em relação aos EUA significaria não apenas um estímulo indevido ao imperialismo desumano do qual sua história é composta, mas a renúncia a nosso direito por reafirmarmo-nos como nação livre e autônoma no cenário internacional.
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