Por Alberto Lima, direto de Paris para o Blog de Jamildo
Jarbas Vasconcelos é um embuste.
Como em raras vezes, deu hoje uma entrevista em que foi obrigado a engolir a prepotência e a arrogância que lhe são próprias, e assumir o ar de derrotado que respira.
A exegese das suas falas sintetiza o triste epílogo que reconhece pra si mesmo nas próximas eleições.
Chaleira Lula, evita desancar Eduardo com o palavrório que lhe foi sempre tão peculiar, não tem aliados em quem se agarrar.
Está nu, posto à imolação, como Gustavo Krause e José Mucio um dia estiveram.
Em linguagem político-odontológica, Jarbas é o pivô de uma chapa banguela.
O primeiro cheiro de que uma coisa vai mal na política de Pernambuco é Sérgio Guerra não participar dela. Ninguém que conheça um pouco desse corleonesco personagem do Estado seria capaz de apostar que ele pularia de uma disputa ganha.
Sérgio Guerra tem o senso do oportunismo. Ele foi Arraes, foi Jarbas e, hoje, todos sabem, é Eduardo também. Talvez por isso, tenha chegado à coletiva desta tarde com 40 minutos de atraso. 40. E não 15. Ato falho, senador!
Li aqui no Blog de Jamildo que alegou a "total incompatibilidade" em coordenar a campanha de Serra e disputar uma majoritária.
Mas que é "sensato" concorrer a deputado federal. Comove-me a sua responsabilidade cívica ante o eleitorado pernambucano.
Guerra pulou da chapa majoritária de Jarbas como o diabo foge da cruz.
Menos aceitaria o nanico cargo de vice, como se ventilou por aí, certo de que sentiria o amargor da perda do poder a partir de 2011, ainda mais como anão, numa posição tão apequenada.
Restou ao senador Vasconcelos, apoiado pelo PSDB nacional e isolado, na mesma esfera, pelo próprio ajuntamento do qual faz parte - o PMDB, a quixotesca missão de montar um palanque oco e sobre palafitas para disputar o Palácio do Campo das Princesas, com vistas a dar piso a José Serra no Estado.
Vai só até agora, sem mesmo uma palavra decisiva do temporão e esfíngico Marco Maciel.
Não há, na fala de Jarbas, qualquer demonstração de solidez política que se traduza em apoio recebido à própria candidatura.
Para defini-la, ele ouviu:
1) "lideranças políticas da oposição" (suposto pensar, por exemplo, em Terezinha Nunes, Pedro Eurico etc);
2) "amigos" (Lavareda etc);
3) "familiares" (abstenho-me de comentar);
4) "eleitores" (lideranças políticas da oposição + amigos + familiares + outros).
Quem começa uma campanha difícil dizendo que "não estava nos meus planos", "reiterei várias vezes (que não queria)", "não foi uma decisão fácil (a de aceitar)", "vou disputar porque os pernambucanos (usa o discurso da generalidade para lhe dar legitimação) me pediram" já demonstra que entrou empurrado para a peleja.
Se nem ele mesmo está convencido da sua viabilidade, como quer convencer o eleitor?
A maior prova da fragilidade da sua candidatura é a de que seu discurso tímido não tem lugar pra si mesmo, de quem nem muito fala, mas apenas para Serra: "José Serra será o próximo presidente do Brasil"; "assumiu o compromisso de ajudar no que for possível (Pernambuco)"; ou a lapidar "o povo de Pernambuco vai querer saber quem fará mais no futuro, a partir do próximo ano, quando José Serra estiver na Presidência da República".
Ou seja, ele já se exclui, inconscientemente, de estar como governador do Estado em 2011.
A adulação a Lula, que goza de quase 100% de popularidade em Pernambuco, foi marqueteiramente ensaiada para apagar aquele Jarbas que, um ano e meio atrás, disse a Veja que o presidente não tinha "compromisso com a ética". Patético.
Jarbas, para viabilizar-se como canal que leva a Serra, afaga Lula, ao mesmo tempo que tenta descolar o presidente da sua ungida Dilma Rousseff.
O tiro de misericórdia que desfere contra si mesmo é a falta de uma crítica consistente que marque o ponto da sua posição contra Eduardo Campos.
Ouve-se do mesmo Jarbas - que, em tempos de acidez, chegou a chamar adversários de "prostitutas sem-vergonha" - frases serrinha-paz-e-amor como classificar o atual governo estadual de "beija-flor" porque "pousa aqui, pousa ali".
Que discurso tão meigo, senador!
Vejo nessa comparação até algo de verde, de ambiental, qualquer coisa de Marina Silva por ali. E que Serra não saiba disso.
Jarbas Vasconcelos, em suma, é o maestro roto de uma banda destroçada.
Muitos dos que julga seus músicos para essa eleição tocam para a fanfarra concorrente, e ele bem sabe disso.
Entra nessa disputa ameaçado a uma estrondosa derrota. Mas com a perspectiva de que, eleito Serra, será bem recompensado, nos quatro anos que lhe restam no Senado, com o cargo de Ministro com que sempre sonhou.
Se tudo der errado, restará para Jarbas, quem sabe, juntar seus trapos aos farrapos de João Paulo para costurar mutuamente uma bela colcha de fuxico de olho em 2012.
Alberto Lima é jornalista
Fonte:
Blog do Jamildo
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