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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cena política deixa Serra sem lugar de novo, diz pesquisador

                                                           O lugar de Serra. Foto: Google



O homem errado na situação errada. É assim que o professor Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisa e Pós-graduação do Rio de Janeiro (Iupperj), ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), analisa o desafio enfrentado pelo candidato do PSDB, José Serra, na corrida pela presidência da República. “O jogo político colocou-o fora de lugar duas vezes. Esse é o principal problema dos tucanos”, analisou Figueiredo.

De acordo com ele, em 2002, a população queria uma mudança, tanto que o tucano embalou sua campanha com o jingle “A mudança é azul”. Mas como foi ministro da Saúde do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estava ligado demais a um governo com pouco apoio da população – em pesquisa do Datafolha, em outubro de 2002, apenas 26% dos entrevistados consideravam o governo de FHC “ótimo ou bom” e 32% o consideravam “ruim ou péssimo”.

Hoje, o momento é outro, aponta Figueiredo, e os brasileiros dão sinais de que querem continuidade. Em consulta feita pelo Ibope neste mês, além da candidata do PT, Dilma Rousseff, aparecer na frente com quase seis pontos percentuais de vantagem (Dilma teria 38,2% das intenções contra 32,3% de Serra), Lula tem índice recorde de popularidade – cerca de 75% das pessoas consultadas consideram o governo “bom ou ótimo” e apenas 3% avaliam como “ruim ou péssimo”.

Com base aos números, Figueiredo lança a questão: “O que Serra vai fazer? Vai dar continuidade ao governo Lula? Porque se ele falar em mudança, ele vai quebrar a cara. Agora, o que se pensa é ‘como é que ele vai dar continuidade se ele é da oposição?’”

Para tornar a situação ainda mais difícil, Marcus Figueiredo avalia a possível entrada do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) como vice na chapa de Serra como “um desastre” que, eleitoralmente, não acrescenta nada. “Ele não vai ficar nem melhor nem pior no Paraná por causa do vice”, afirma o pesquisador. “Ele já teve boa votação no Sul em 2002, e o Alckmin teve excelente votação no corredor agrícola que vai desde São Paulo até Rondônia, mas isso não é suficiente para encarar o resto do País. Vai ficar uma chapa São Paulo-Sul contra o resto do Brasil”.

Os eleitores perdidos em 2002
Mais forte nas regiões Sul e Sudeste, o maior desafio de Serra é recuperar um eleitor que já foi fiel ao PSDB, mas, a partir de 2002, foi sendo gradualmente conquistado pelo presidente Lula e garantiu a reeleição do presidente em 2006: o eleitorado de baixíssima renda, que ganha até dois salários mínimos. A mudança de posição dessa camada é o que o cientista político André Singer, autor do artigo “Razões sociais e ideológicas do Lulismo” de novembro do ano passado, considera um “realinhamento do eleitorado” a partir de 2006.

A hipótese do pesquisador para explicar o fenômeno é que Lula conquistou esse eleitor durante o primeiro mandato, mesclando políticas sociais direcionadas, entre as quais o programa Bolsa Família, e a manutenção da política econômica. “Essa é a minha hipótese e estou apostando que essa mudança veio para ficar”, afirmou o pesquisador.

Singer aponta para uma pesquisa Ibope de outubro de 2006 – pouco antes da reeleição, portanto – na qual as intenções de voto no presidente Lula eram maioria no universo de eleitores que tem renda mensal inferior a dois salários mínimos e entre os que ganham de dois a cinco salários, enquanto o candidato tucano, Geraldo Alckmin, tinha preferência entre os brasileiros que recebem mais de cinco mínimos. A desvantagem para o PSDB é que a população mais pobre reúne cerca de 49% dos eleitores brasileiros.

Sustentada especialmente pela camada da população que sobrevive com uma remuneração inferior a dois salários, a vitória de Lula foi inédita. Desde a primeira tentativa de conquistar o Palácio do Planalto em 1989, essa foi a primeira vez que o petista conseguiu a maioria dos votos nesse universo. “O Lula começou a ter esse eleitor já em 2002, porque é difícil atingir a maioria sem ter certa penetração nessa camada; ela é muito grande. O que acontece é que, em 2006, essas pessoas se tornam a base da vitória”, explicou Singer.

Talvez ainda seja cedo para afirmar que o fenômeno do “voto de classe” de 2006 irá se repetir em 2010, mas tanto Marcus Figueiredo como André Singer veem dificuldades para os tucanos recuperarem a maioria entre as classes menos favorecidas da população, e apontam como motivos a crise cambial e a desvalorização do real em 1999.

Para Singer, o PSDB não foi capaz de transformar a adesão do eleitorado da reeleição do FHC em lealdade política e, agora, Serra tenta se aproximar dessas pessoas ao criticar a política de segurança do atual governo. “Com a questão da segurança, ele faz uma tentativa de falar com os eleitores de baixa renda das metrópoles, mas não resolve o caso do interior do nordeste”, afirma o estudioso. “Pode ser que em Salvador ou Recife tenha algum eco. Mas acho que emprego, renda e abertura de novas oportunidades vão falar mais alto”.

Marcus Figueiredo acredita que a desvalorização do real, logo após a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, decepcionou os eleitores. “O FHC tinha acabado de sair de uma campanha prometendo estabilidade, aí veio a crise e pegou o Banco Central e deu aquela confusão”, relembra ele. “A aprovação do governo que antes era de 40% foi para 20% e nunca mais se recuperou. O Serra terminou o segundo turno da eleição de 2002 com 38%, e acho que esse é o tamanho do eleitorado conservador, é o que ele tinha e mantém”, diz o pesquisador.

Falta discutir o projeto
Outro problema apontado por Figueiredo na campanha tucana à presidência é a posição agressiva. Para o professor, Serra, no lançamento da candidatura, acabou engrossando um discurso neoudenista, semelhante ao da antiga UDN na oposição ao varguismo. “Eles estão fazendo uma campanha ‘moralesca’ porque ficam dizendo que o PT é o diabo e eles são santos”. Figueiredo concluiu dizendo que o PSDB ainda precisa expor qual é o seu projeto para o País. “Não tem político santo e não se trata de uma questão de deixar para lá (questões como as denúncias de corrupção), mas é que até agora não sabemos qual é o projeto dos tucanos para o Brasil”, aponta. “O projeto Lula a gente sabe, porque está acontecendo”.

O pesquisador do Iupperj, no entanto, lamenta a situação de Serra. “Ele é um extraordinário político da história do Brasil, isso é uma pena. Mas ele fica refém da hegemonia conservadora do PSDB. Ainda mais, sendo obrigado a fazer aliança com o DEM.” Para Figueiredo, o partido teria mais chance com Aécio Neves na disputa da presidência. “Se o Aécio fosse candidato, a conversa seria totalmente diferente porque você teria uma extraordinária novidade. Quando você entra com um personagem novo, não responsável por aquele passado, não tem como relacionar e dizer que vai fazer aquilo que o FHC fez.”

De Juliana Piva no Terra

Fonte:O Recôncavo

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