Hoje, porém, estou ainda mais estarrecido. Leio no Estadão uma entrevista da Dra. Sandra Cureau se refere ao Presidente da Republica em termos absolutamente inadequados para sua alta e , ao menos desejável, imparcial posição. Diz que o problema é que o presidente Lula é que “não consegue ficar de boca calada”.
Vou reproduzir o trecho, para que não se diga que eu retiro as palavras do contexto em que a colocou a repórter carioca Marta Salomon:
“Sandra Cureau – ela costuma escrever “Quirrô” para os que têm dificuldade de pronunciar o sobrenome francês – é personagem nas multas já aplicadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por propaganda antecipada. “Não sou eu quem multa, ele é que não consegue ficar com a boca calada”, justifica a subprocuradora.”
Divirja eu quanto divergir da orientação que ela imprime ao MPE, não tenho o direito de me expressar assim, e não devo cometer desrespeitos ou agressões pessoais, embora tenha todo o direito de criticar seus atos e omissões e, até, de pedir ações jurídicas contra eles.
Mas a Dra. Sandra não pára por aí. Diz que está “deixando passar”, por não dispor de estrutura de pessoal, coisas menores, para concentrar-se nas grandes.
De novo, transcrevo, literalmente:
“Se for uma coisa pequena, que não seja relevante, deixo passar, não vou entupir o tribunal com bobagens”, resume. “Vai ser uma eleição muito, muito, muito complicada”, diz a xerife do pleito: “O termo não é muito simpático, mas, na verdade, é isso mesmo: xerife”.
A subprocuradora Cureau, que não hesita em sugerir que o presidente da República fique de boca calada, certamente não teve ensejo, na sua longa entrevista, de comentar sequer estes abusos contumazes, embora não entenda eu por que o uso irregular de redes nacionais de rádio e televisão, com dezenas de milhões de espectadores seja “bobagem” e fique, se ficar, para o final da fila, para não entupir o tribunal porque, talvez, “não seja relevante”.
Não bastasse, porém, a sua longa entrevista ao Estadão, a Dra. Cureau lança outra declaração insólita, desta vez na Folha de S. Paulo (edição para assinantes). Falando ao jornal – de novo a citação é literal – ele diz que “a oposição foi estimulada a fazer propaganda depois dos programas do PT com Dilma em maio. “Foi o divisor de águas. A partir dali a gente não teve mais controle”, afirmou.
Ah, então é assim. Se houve uma transgressão – de avaliação subjetiva – de um dos lados o outro estaria autorizado a fazer até mesmo transgressões flagrantemente objetivas ao texto da lei? Faz muito tempo, desde a infância, que não ouco o argumento “jurídico” do “ah, mas foi ele quem começou” como razão para justificar uma transgressão. E, mesmo quando era usado, o castigo era para os dois.
Este post não está aberto a comentários. Mesmo que me seja impensável haver sentimentos mesquinhos de vingança por parte de qualquer pessoa investida de funções tão altas, hoje em dia é bom pensar no impensável.
Fonte: Tijolaço


