Antes de refazer o exame de DNA, filhos adotivos da dona do Clarín deixam a Argentina
por Daniella Cambaúva
Os filhos adotivos da principal acionista do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble, Felipe e Marcela, deixaram a Argentina nesta quinta-feira (1/07), um dia antes do banco nacional de dados genéticos ter conformado que os dois teriam que refazer o exame, pois as amostras já coletadas não foram suficientes para a confirmação dos dados genéticos.
Há oito anos, organizações defensoras de direitos humanos da Argentina afirmam que os dois foram adotados ilegalmente durante a última ditadura militar do país (1976-1983). Na época, era uma prática comum do governo entregar os bebês de mulheres consideradas subversivas a militares ou simpatizantes do regime. Após longa disputa judicial, a Suprema Corte da Argentina determinou, no dia 19 de maio deste ano, que Felipe e Marcela fizessem exame para comparar com o DNA de desaparecidos da ditadura.
Dias antes das amostras serem entregues, a mãe adotiva foi para o Uruguai e depois para os Estados Unidos, segundo fontes do departamento de imigração de Montevidéu.
O jornalista Eduardo Anguita, diretor do jornal Miradas al Sur e do canal de notícias CN23, foi quem informou que os filhos tinham deixado o país. Pouco depois, a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, confirmou.
Segundo Anguita, citando fontes do departamento da imigração do Uruguai – para onde Ernestina teria ido após deixar Buenos Aires – Felipe deixou o país três dias após Ernestina, e Marcela horas após a imprensa publicar que o exame precisará ser refeito.
Invalidade
Segundo o advogado da família, Pablo Llonto, o banco nacional de dados genéticos, onde há registros de amostras de mulheres que estavam grávidas ou com suspeita de gravidez na década de 1970, não há “elementos suficientes para trabalhar no DNA”.
“Há dificuldades e talvez a juíza tenha que pedir outra vez o exame e pedirá que tirem sangue”, disse, em entrevista concedida à rádio argentina Del Plata nesta terça-feira (30/06). A Associação das Avós da Praça de Maio afirmou ainda que a notificação da necessidade de refazer o exame informava que “as peças de roupas tinham informação genética de numerosas pessoas de diferentes sexos”. Por isso, segundo as Avós, existe a suspeita de que as amostras foram adulteradas.
Documentos falsos
Segundo documentos da adoção, em 13 de maio de 1976, Ernestina se apresentou diante da Justiça, em San Isidro, com um bebê a quem chamou de Marcela. Disse que havia encontrado a menina onze dias antes em uma caixa abandonada na porta de sua casa. Ernestina ofereceu como testemunhas uma vizinha e o caseiro da vizinha, cujos depoimentos foram desmentidos em 2001.
No caso do Felipe, ela declarou que foi entregue, em 7 de julho de 1976, pela suposta mãe, Carmen Luisa Delta, que não podia ficar com o bebê. No mesmo dia, sem dispor de provas determinando as circunstâncias do nascimento, uma juíza concedeu a segunda guarda à Ernestina. A Justiça descobriu, anos depois, que a Delta nunca existiu.
Investigação
Durante a ditadura,estima-se que 500 crianças tenham sido separadas dos pais na Argentina naquela época. Se for comprovado que houve sequestro, Ernestina Herrera de Noble pode ser presa.
As buscas pelos filhos desaparecidos já eram realizadas por algumas associações de direitos humanos da Argentina, como por exemplo, as Avós e as Mães da Praça de Maio. Com as Lei de Ponto Final e Obediência Devida, que, em 2005 e 2006, anularam a anistia dos torturadores do regime, a procura por documentos se tornou oficial.
Até agora, foram encontrados 101 filhos sequestrados.
Por Juliana Sada
do site “Opera Mundi”
Fonte: Escrevinhador
segunda-feira, 5 de julho de 2010
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