A grande imprensa tem horror à transparência. Tudo o que ela prega para os governos, não deseja para si. Grande parte do seu poder foi construído à base de mentiras, impossíveis de serem rebatidas por quem não tinha acesso às suas páginas. O advento da internet reduziu isso. Hoje, é possível desmontar uma versão da imprensa com a publicação de outras opiniões em sites e blogs.
A Petrobras foi precursora nesse sentido, com a criação do blog Fatos e Dados, que publica todas as entrevistas concedidas à imprensa por integrantes da empresa, com as respectivas perguntas enviadas ou formuladas. Com isso, a Petrobras se defende de possíveis manipulações, provando o que exatamente foi perguntado e de que maneira foi respondido.
Os grandes meios não toleram isso. Gostariam de manter a relação desigual de que sempre se valeram para distorcer declarações a seu bel prazer e adequá-las a intentos pré-concebidos. Por isso, não perdem a oportunidade de se vingar dos que ousam desafiá-los, como fez O Globo (o link é apenas de um trecho da matéria, pois a íntegra só está disponível na edição digital) com o Ipea, em sua edição de sábado.
A matéria publicada na página 3 do jornal, a principal para assuntos políticos, sob a manchete de “Uma máquina de alto custo” poderia, ou melhor, deveria, virar estudo de caso em qualquer faculdade de jornalismo do país para mostrar como é que uma matéria não deve ser escrita para seguir a “imparcialidade” que os “jornalões” tanto propalam. A vantagem para os professores é que eles dispõem de todo o processo de confecção da matéria. As perguntas enviadas e as respostas dadas, disponibilizadas pelo Ipea, e o resultado final.
Sem nenhuma declaração de qualquer estudioso ou argumentos que comprovem suas afirmações, a matéria acusa o Ipea de produzir estudos sem rigor técnico e acadêmico para exaltar o governo Lula e, indiretamente, a campanha de Dilma Rousseff.
O Globo tenta apresentar o Ipea, cujas pesquisas são estratégicas para a formulação de políticas públicas nacionais, como uma máquina de propaganda do governo, que “consome milhões” em recursos públicos. O jornal se vale principalmente de percentuais, relegando os números absolutos a letras pequenas e sem destaque.
Para começar, não dá pra dizer que o Ipea esteja montando uma máquina de propaganda, pois todos os cargos extras criados nos últimos dois anos, 116, foram preenchidos por meio de concurso público e auditável. A acusação de que o instituto “inflou” sua folha de funcionários tercerizados em 49% também não se sustenta, já que o jornal “esconde” o fato disso representar apenas 40 funcionários contratados em dois anos, um número muito aceitável para um órgão federal em expansão.
Embora o Ipea afirme que suas representações no exterior são para apoiar projetos de cooperação com países em desenvolvimento, O Globo contesta a instalação de escritórios na Venezuela, em Cuba e em Angola, e levanta suspeita sobre 15 viagens dos diretores a esses países em dois anos, sendo 11 delas para Caracas.
Como o próprio Ipea afirmou na resposta à pergunta de O Globo sobre as viagens, elas também se realizam para países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a França, que “nunca foram objeto de questionamentos ou justificativas”.
Chega a ser cruel da parte de O Globo atacar o instituto por isso, mas, acreditem, o jornal também questiona o aumento de gastos com bolsas para pesquisa, justamente em um país onde o estudo científico é sempre deixado de lado pela ampla maioria dos governos.
Mas vocês podem se preparar, porque com Serra caindo do jeito que está nas pesquisas eleitorais e com a subida de popularidade de Dilma, a imprensa tucana vai fazer o que estiver ao seu alcance para tentar confundir os eleitores com informações desonestas como a dessa matéria de O Globo.
Fonte: Tijolaço
terça-feira, 24 de agosto de 2010
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