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domingo, 22 de agosto de 2010

Serra em parafuso

Podemos dizer, sem medo de errar. "Nunca antes na história desse país",.... o jornal Folha de São Paulo,o qual presta assessoria para o PSDB, detonou, humilhou e abandonou seu candidato, de maneira tão trágica como está fazendo agora com o Serra.

Leiam aqui o editorial da Folha e a seguir o artigo escrito por Marcelo Coelho, e notem, a Folha jogou a toalha

Em matéria de campanha eleitoral, minha curiosidade agora se resume ao seguinte: quem é, como surgiu, quando foi inventado e por que foi escolhido o marqueteiro de José Serra.

A iniciativa de colocar Serra na garupa de Lula valeria o prêmio de maior desastre em marketing eleitoral dos últimos 20 anos. Aliás, talvez valesse puxar pela memória e fazer uma lista.

Claro que não é esse erro que fez Dilma subir. Ela subiria de qualquer modo, por representar a continuidade de um governo com índices imensos de popularidade.
 Mais uma vez, recomendo a esse respeito “A Cabeça do Eleitor”, livro do sociólogo Alberto Carlos Almeida, que demonstra em grande número de casos e exemplos a probabilidade quase certa de continuísmo nas eleições quando a popularidade de um governante é alta.

Mas se uma candidatura oposicionista estava praticamente condenada, desde o início, a perder esta eleição, isso não é desculpa para a malandragem tentada no horário político de Serra.

Dizer que a Dilma está tirando os méritos de Lula, está se apropriando da obra que Lula fez, como diz o jingle serrista, só não é totalmente malandragem porque é uma imensa burrice também.

Quem queria votar em Serra porque ele é oposição a Lula se sente traído. E quem é a favor de Lula percebe na hora que Serra está mentindo ao atrelar-se ao sucesso governista.

A estratégia é desonesta com quem é da situação e com quem é da oposição.

No fundo, o erro político de Serra vem de muito antes.

Fez a campanha situacionista na sucessão de Fernando Henrique. Apoiou publicamente um governo de cuja política econômica, no íntimo, ele discordava.

Ficou como candidato de oposição ao governo Lula, discordando mais do conservadorismo de seus aliados do que das linhas distributivistas e desenvolvimentistas de Dilma e Mantega.

Nos dois casos, preferiu criticar os aliados, nos bastidores, a dizer o que de fato pensa, em público.

O Ibope é o ópio dos políticos. Quando estava com índices altos de popularidade, Serra não se expunha; fez o mesmo que todos os outros, aliás. Quando começou a cair, não tinha nenhum discurso em que se segurar, e acaba caindo dos dois lados ao mesmo tempo. Cai porque é oposição, cai porque tenta fingir que não é oposição, cai porque gostaria de não ser oposição, cai porque gostaria de ser mais oposição mas acha que com isso cairia mais ainda.

A moral da história não depende, entretanto, das atitudes pessoais de Serra. É que, contra uma candidatura de centro-esquerda, chame-se varguista, populista, corrupta ou o que quer que seja, o lugar da oposição teria de ser ocupado por uma candidatura de direita, chame-se liberal, lacerdista, udenista ou o que quer que seja.

Esta iria provavelmente perder; mas o fato é que Serra não se encaixa nesse papel. Um candidato, mesmo derrotado, que seguisse o figurino de Lacerda poderia marcar posição e crescer daqui a quatro ou oito anos. Por estranho que pareça, a propaganda com Serra e Lula lado a lado expressa uma identificação real. Para falar romanticamente, a vida os separou... E

Enquanto isso, Tiririca apóia Mercadante, Serra tem de vice o Índio da Costa, a “social-democracia brasileira” obedece aos ruralistas e quem já foi leninista ou trotskista anda de braços dados com a bancada evangélica e a família Sarney.

Folha abandona Serra com requintes de crueldade, para salvar Alckmin


A Folha de José Serra (jornal Folha de São Paulo), quem diria, jogou José Serra (PSDB) ao mar.

O gesto não tem nada de nobre, muito menos a Folha abdicou de seu tucanismo, pelo contrário. Nota-se o cálculo político dos donos do jornal.

Dão como desenganada qualquer chance de vitória de Serra, por isso não tem mais nada a perder jogando Serra ao mar. Mas tem muito a perder se Alckmin também for derrotado para o governo paulista, e os gestos de Serra levarão Alckmin à derrota.

Apreciem o editorial da Folha abandonando Serra com requintes de crueldade:


Avesso do avesso

Tentativa do tucano José Serra de se associar a Lula na propaganda eleitoral é mais um sinal da profunda crise vivida pela oposição

Pode até ser que a candidatura José Serra à Presidência experimente alguma oscilação estatística até o dia 3 de outubro. E fatores imprevisíveis, como se sabe, são capazes de alterar o rumo de toda eleição. Não há como negar, portanto, chances teóricas de sobrevida à postulação tucana.

Do ponto de vista político, todavia, a campanha de Serra parece ter recebido seu atestado de óbito com a divulgação da pesquisa Datafolha que mostra uma diferença acachapante a favor da petista Dilma Rousseff.

A situação já era desesperadora. Sintoma disso foi o programa do horário eleitoral que foi ao ar na quinta-feira no qual o principal candidato de oposição ao governo Lula tenta aparecer atrelado... ao próprio Lula.

Cenas de arquivo, com o atual presidente ao lado de Serra, visaram a inocular, numa candidatura em declínio nas pesquisas, um pouco da popularidade do mandatário. Como se não bastasse Dilma Rousseff como exemplar enlatado e replicante do "pai dos pobres" petista, eis que o tucano também se lança rumo à órbita de Lula, como um novo satélite artificial; mas o que era de lata se faz, agora, em puro papelão.

Num cúmulo de parasitismo político, o jingle veiculado no horário do PSDB apropria-se da missão, de todas a mais improvável, de "defender" o presidente contra a candidata que este mesmo inventou para a sucessão. "Tira a mão do trabalho do Lula/ tá pegando mal/... Tudo que é coisa do Lula/ a Dilma diz/ é meu, é meu."

Serra, portanto, e não Dilma, é quem seria o verdadeiro lulista. A sem-cerimônia dessa apropriação extravasa os limites, reconhecidamente largos, da mistificação marqueteira.

A infeliz jogada se volta, não contra o PT, Lula, Dilma ou quaisquer dos 40 nomes envolvidos no mensalão, mas contra o próprio PSDB, e toda a trajetória que José Serra procurou construir como liderança oposicionista.

Seria injusto atribuir exclusivamente a um acúmulo de erros estratégicos a derrocada do candidato. Contra altos índices de popularidade do governo, e bons resultados da economia, o discurso oposicionista seria, de todo modo, de difícil sustentação em expressivas parcelas do eleitorado.

Mais difícil ainda, contudo, quando em vez de um político disposto a levar adiante suas próprias convicções, o que se viu foi um personagem errático, não raro evasivo, que submeteu o cronograma da oposição ao cálculo finório das conveniências pessoais, que se acomodou em índices inerciais de popularidade, que preferiu o jogo das pressões de bastidor à disputa aberta, e que agora se apresenta como "Zé", no improvável intento de redefinir sua imagem pública.

Não é do feitio deste jornal tripudiar sobre quem vê, agora, o peso dos próprios erros, e colhe o que merece. Intolerável, entretanto, é o significado mais profundo desse desesperado espasmo da campanha serrista.

Numa rudimentar tentativa de passa-moleque político, Serra desrespeitou não apenas o papel, exitoso ou não, que teria a representar na disputa presidencial. Desrespeitou os eleitores, tanto lulistas quanto serristas.

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