A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, foi entrevistada ao vivo nesta segunda-feira (18) no Jornal Nacional pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes.(…)Fátima Bernardes: Boa noite, candidata.Dilma Rousseff: Boa noite, Fátima. Boa noite, Bonner. Boa noite para você que nos acompanha.Fátima Bernardes: A entrevista terá dez minutos com tolerância para que a candidata conclua uma resposta sem ser interrompida e mais 30 segundos para a mensagem dela aos eleitores. O tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a senhora liderou grande parte da campanha e esteve muito perto de vencer no primeiro turno. Como a senhora explicaria a decisão do eleitor de levar essa disputa para o segundo turno?Dilma Rousseff: Eu acho que o eleitor queria uma oportunidade a mais para refletir e para poder, cotejando as propostas, ter uma opção agora com mais clareza. Agora, a verdade é que nós, eu sou muito grata aos eleitores que votaram em mim, porque eu tive mais de 47 milhões e veja que coisa curiosa: eu acredito que eu seja a mulher mais, a segunda mulher mais votada da história do planeta, a primeira sendo a Indira Ghandi.William Bonner: Candidata, quando terminou o primeiro turno, a senhora e alguns de seus assessores e enfim, partidários do Partido dos Trabalhadores chegaram a dizer que aquela discussão, aquela polêmica sobe o aborto tinha motivado essa decisão do eleitor no primeiro turno. Essa polêmica toda, essa discussão não teria se dado por causa de sua mudança de posição sobre a legislação referente ao aborto? Eu digo isso porque pessoalmente a senhora sempre se manifestou contrária ao aborto. O que a senhora fez em algumas entrevistas, na revista “Marie Claire”, na “Folha de S.Paulo”, foi dizer que era favorável à mudança da legislação, à legalização do aborto. Não teria sido mais natural em um país tolerante como é o nosso que a senhora tivesse admitido publicamente essa mudança de opinião a respeito?Dilma Rousseff: Veja bem, Bonner, eu acredito que nessa história do aborto houve muita confusão. Há uma diferença, Bonner, entre a posição individual minha como cidadã, eu sou contra o aborto, porque eu acho uma violência contra a mulher, eu acredito que mulher alguma é a favor do aborto. Acho que as pessoas que recorrem ao aborto o fazem em situação-limite. O que é que acontece com o presidente da República, ele não pode fingir que não existe milhares de mulheres, principalmente, até milhões, pelos dados até publicados pelo [jornal O] Globo, são milhões de mulheres, três milhões de mulheres que recorrem ao aborto. Nós não podemos fingir que essas mulheres não existem, e mais, não podemos fingir que essas mulheres, elas fazem isso em situações muito precárias e provoca, recorrer ao aborto provoca risco de vida e em alguns casos a morte. Pois bem, a minha posição sempre foi a seguinte: você não pode colocar essas mulheres, prender essas mulheres. Não se trata de prender essas mulheres, se trata de cuidar delas. Porque você não vai deixar três milhões e meio de mulheres ameaçadas a sua saúde, então são duas posições diferentes. Quando a gente diz que o aborto não é um caso de polícia, no Brasil ele é um caso de saúde pública, o que que nós estamos falando? Nós estamos falando o seguinte: para prevenir para que não haja o aborto, primeira questão, nós temos que tratar a quantidade imensa de gestantes adolescentes, que recorrem ao aborto ou porque têm medo da família, da família não aceitar, ou porque é… já não têm laços familiares efetivos que podem garantir a ela o apoio para poder ter a criança.William Bonner: Agora, na semana passada, a senhora divulgou um documento em que a senhora afirmou o compromisso de não propor nenhuma modificação na legislação. Algumas pessoas que defendem o aborto como uma questão de saúde pública, como a senhora mesma já fez no passado, entenderam que esse seu compromisso seria um recuo, uma concessão excessiva aos religiosos, que entra em contradição com o que a senhora mesma já defendeu, que dizia que é uma questão de saúde pública e que é um absurdo, a senhora disse isso para a “Folha de S.Paulo”, que não se legalize a questão. Daqui a questão. A senhora não vê uma contradição?Dilma Rousseff: Não, não vejo. Você sabe porque, Bonner? Porque ninguém em sã consciência vai propor prender 3,5 milhões de mulheres. Até porque tem um problema concreto, prático. Eu não concordo com a mudança na legislação. A legislação prevê aborto em dois casos. Prevê no caso de estupro e de risco de vida para a mulher. Então há, necessariamente, uma forma de a gente conduzir isso sem alteração. Eu acredito que um processo de alteração por plebiscito seria muito ruim. Porque dividiria o Brasil de ponta a ponta. Não levaria a uma forma de, eu diria, de acordo e de consenso. Pelo contrário, os países que fizeram isso tiveram péssimas experiências. Então, eu fiz uma carta que é uma carta a todos os religiosos, mas é uma carta única ao povo brasileiro no sentido de que acredito que a legislação pode ser mantida, não é necessário alterar os termos da legislação.Fátima Bernardes: Candidata, os institutos de pesquisas atribuíram, não a essa questão do aborto, mas ao escândalo da sua ex-assessora Erenice Guerra a ida ao segundo turno. O escândalo envolvendo familiares de parentes e tráfico de influências. A senhora chegou a dizer num primeiro momento que essas denúncias eram factóides, depois a senhora mesma reconheceu que sua ex-assessora errou e que o seu partido investiga os erros. Agora a questão que surge é a seguinte, como isso aconteceu num ministério que a senhora comandou, que é a Casa Civil, e que garantias a senhora propõe ao eleitor de que isso não venha a se repetir no caso de a senhora ser eleita?Dilma Rousseff: Olha, Fátima, a gente tem de ser muito claro com o eleitor e não tentar enganá-lo. Erros e pessoas que erram acontecem em todos os governos, o que diferencia um governo de qualquer outro governo é a atitude deste governo em relação ao erro. A nossa atitude é: nós investigamos e punimos. Por exemplo, no caso da Erenice, eu não concordo com a contratação de parentes e amigos. Sempre fui contrária ao nepotismo. Jamais deixei.Fátima Bernardes: Mas ele aconteceu.Dilma Rousseff: Sempre pode acontecer. Errar em vários momentos. Não tem como você saber se a pessoa vai errar ou não a priori. Nós temos é de garantir que tenha punição. Eu vou te dar um exemplo
Fonte: Maria Frô


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