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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Secretário do Tesouro dos EUA culpa China pela apreciação do real

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, deu um show de hipocrisia imperial em sua recente visita ao Brasil. Reconheceu que a valorização do real é um problema sério para a economia brasileira, mas disse que a China, por manter o câmbio sob controle, é a grande culpada pelo fenômeno.

Ele se encontrou na segunda (7) com a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que reclamaram do déficit comercial que o Brasil vem acumulando no comércio com os Estados Unidos. Em 2010, o rombo foi de US$ 7,7 bilhões, resultado que significa, do outro lado, o maior superávit obtido pela grande potência capitalista em suas trocas bilaterais. Já com a China, o Brasil teve um saldo positivo de 5,2 bilhões no mesmo ano.

Hipocrisia imperial


Como era de se esperar, Geithner não admite publicamente que a política monetária estadunidense tem provocado uma inundação de dólares pelo mundo, aviltando o valor da moeda que lidera as transações econômicas internacionais e ensejando a chamada guerra cambial.

Ele deu a entender o contrário, em entrevista ao Valor Online publicada nesta terça-feira (8). “Nós temos um sistema de câmbio totalmente flexível. Nós mantemos a política de dólar forte e nunca vamos enfraquecer a taxa de câmbio para obter vantagens em relação a outros países”, assegurou. “É muito importante para o mundo que os EUA sejam bem sucedidos em reparar os estragos causados pela crise. O mundo está numa posição muito mais sólida do que estava há seis ou 12 meses, em parte porque os EUA ajudaram a promover uma expansão mais forte, evitando o risco de uma nova recessão por um longo período".

Restaria concluir que o Brasil e o mundo devem agradecer a Washington pelas emissões derivadas da política designada, eufemisticamente, de afrouxamento quantitativo (quantitative easing), que ao longo dos dois últimos anos multiplicaram por quatro a base monetária do país. O Federal Reserve (FED, banco central dos EUA) já despejou US$ 1,7 trilhão na economia e desde dezembro começou a emitir mais US$ 600 bilhões, à razão de US$ 75 bilhões por mês.

Ao negar os efeitos do derrame desbragado de dólares nos mercados cambiais, o secretário de Obama está afrontando as evidências e insultando o bom senso. Soa como piada a afirmação de que o império mantém uma política de dólar forte, por sinal a mesma que faz a moeda imperial derreter nos mercados cambiais. Nem os velhos aliados do outro lado do Atlântico, como a Alemanha (que acusou os EUA de manipulação cambial) e a França (que agora advoga a substituição do dólar como moeda mundial), acreditam nesta conversa fiada.

De G-20 a G-Zero

A visita de Geithner teve o propósito oficial de preparar a vinda do presidente Barack Obama ao país, prevista março. Mas ficou claro o objetivo adicional de conquistar o governo para uma posição comum na reunião ministerial do G-20 (prevista para 18 e 19 de fevereiro). Contra a China, naturalmente.

O clima no interior do grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo não parece muito favorável aos intentos do império. O presidente rotativo do G-20, o francês Nicolas Sarkozy, já deu a entender que defende uma nova ordem monetária internacional, com a substituição do dólar por um sistema de multidivisas, que deve contemplar também o euro, o yuan, a libra e o iene, entre outras divisas.

A posição do secretário do Tesouro americano é mais um sinal de que o G-20 deve se converter “em uma arena de conflito, e não de compromisso”, conforme alertou o economista Nouriel Roubini, que apelidou o G-20 de G-Zero. Os Estados Unidos, em sua opinião, “não são mais os líderes da economia global e nenhuma outra nação tem a mesma influência para substituí-los”. É um fato. E o resultado disto é um mundo em transição sem um rumo muito definido, acumulando contradições e alimentando conflitos.

Da redação, Umberto Martins, com agências

Fonte: Vermelho

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