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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Comissão da Verdade é assunto de urgência


Diante das excelentes matérias de Chico Otávio e Alessandra Duarte sobre a rede de terrorismo de Estado que produziu o atentado do Riocentro, que continuam na edição de hoje de O Globo, pretendo ir amanhã, à tribuna da Câmara, pedir que a Presidente Dilma Roussef solicite  urgência constitucional para a votação do projeto que institui a Comissão da Verdade, que está no Congresso desde maio do ano passado.
Está, e está parado.Com a urgência, teria prazo máximo de 45 dias para ser votado na Câmara e mais outro tanto no Senado.
Não se justifica que o pouco que se sabe sobre estas monstruosidade seja pelo esforço – e até pelo acaso,como reconhece o jornalista Chico Otávio ao falar da descoberta da agenda so sargento Guilherme do Rosário- de alguns profissionais de imprensa.
Nem cabe invocar – o que já é um absurdo em relação a qualquer caso – que isso poderia estar coberto pela lei da Anistia. Como, se a anistia foi assinada em agosto de 79 e a bomba explodiu em maio de 1981? Mesmo para os que acham que esta lei não pode ser questionada, a data está lá, para quem quiser ler: ela vale para os crimes políticos e conexos praticados até 15 de agosto de 1979.
Está aí um assunto em que se pode e deve trabalhar de imediato. Não pode haver objeção, nem mesmo as que consideramos absurdas, em relação à aplicabilidade da lei da Anistia, porque se tratou de ações de banditismo político, com o envolvimento de agentes e instituições de Estado. À revelia, até, registre-se por verdadeiro, do então general-presidente, João Figueiredo.

PS. Aliás, uma curiosidade: a lei da Anistia contempla crimes praticados desde 2 de setembro de 1961, quase três anos do golpe militar. Sabem por que? Porque pretendeu perdoar os golpistas fracassados que tentaram derrubar João Goulart, inclusive como plano da “Operação Mosquito”, que pretendia derrubar o avião presidencial.


Quem era Perdigão, o contato de Rosário, do Riocentro


Da minha companheira, fundadora do PDT, Tania Fayal, sobre o coronel Freddie Perdigão, um dos integrantes da rede terrorista da qual participava o  sargento Guilherme do Rosário, morto no atentado do Riocentro,  revelada na matéria de O Globo de hoje. Se a Câmara dos deputados e o Senado aprovarem, com urgência, a Comissão da Verdade, o seu depoimento será, pela primeira vez, tomado oficialmente para estabelecer quem eram um dos personagens envolvido no caso.
Tania, na partida para o exílio, trocada pelo embaixador alemão.
Na véspera, o torturador Perdigão submeteu-a à última de muitas sessões de tortura
O Perdigão me torturou no primeiro e também no último dia de minha prisão, na véspera de minha partida pelo exílio, no grupo de 40 presos políticos trocados pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben. Ele participou da minha prisão, no elevador do prédio onde eu alugava um apartamento, na esquina da República do Peru com N. S. de Copacabana. Me levaram para dentro do apartamento, me agrediram, me penduraram na janela do prédio, me amarraram numa poltrona e começaram as torturas. Ficaram esperando chegarem outras pessoas, e prenderam meu pai e minha mãe, que foram  me visitar. Isso foi no dia de 19 de dezembro. No dia seguinte de manhã, me picharam com tinta spray, preta, e me levaram ao Batalhão de Guarda, em São Cristovão.  Nos dias em que estive lá e no Doi-Codi- antes de ser levada para o o presídio Talavera Bruce, em Bangu – Perdigão participava sistematicamente das ações de tortura. Meus companheiros de prisão, Domingos Fernandes e Carlos Fayal podem testemunhar, porque foram igualmente torturados por ele. Na véspera de minha libertação, eu o ouvia gritar: “Cabo da guarda, traz essa filha da puta dessa mulher. Você me paga…” Não queria mais informação nenhuma, era só ódio animalesco. Ele não apenas mandava torturar, torturava pessoalmente, aplicando “telefones” (tapas simultâneos nas duas orelhas), choques elétricos, pendurando no pau de arara e aplicando sevícias de todos os mais bárbaros gêneros.Eu me lembro de um detalhe: Perdigão me obrigou a assinar um depoimento confessando ser ladra de automóveis.
“Um dia, Perdigão foi buscar, ainda no Batalhão de Guardas, Domingos e Linda Tayá, que voltaram dois ou três dias depois, arrebentados pela tortura. Eles me contaram que haviam sido levados para uma casa, por uma estrada sinuosa, que desconfiaram ser em Petrópolis, pelo tipo de caminho. Depois, soube que foi lá que assassinaram Rubens Paiva:  era a “Casa da Morte”, um dos “aparelhos” mais terríveis da repressão.
“Eu o encontrei na rua, nos anos 80, levando meus filhos à escola, na frente da Galeria Menescal,  Ele me olhou, balançou a cabeça como quem diz: esta aí, né?”
Perdigão morreu em 1996, numa prosaica operação de apêndice.  Era esse o tipo de gente com quem Guilherme do Rosário se relacionava. E teria sido para ele, Perdigão, que o capitão Wilson Machado, cúmplice de Rosário, teria pedido para ligarem, a caminho do hospital. Wilson Machado está vivo e impune, e pode ser ouvido.
Alguma dúvida de que os antecedentes de Perdigão eram suficientes  para ter participado dos atentados pós-anistia, como a carta-bomba que matou D. Lyda Monteiro, secretária da OAB, um ano depois de assinada a lei?
Fonte Tijolaço

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