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quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Folha chegou ao fundo do poço



O Limpinho reproduz texto de Sylvio Micelli, visto no Blog do Miro.

Tempos atrás recebi em casa uma proposta para voltar a ser assinante do jornal “Falha”, ops… Folha de S.Paulo (eles não admitem brincadeiras… eles não estão de brincadeira…). Como sou lixeiro por natureza, guardei a listinha de 20 itens para um dia usar. O dia chegou.

Internet e, sinceramente, não sinto falta. Quando devo ter acesso a algum conteúdo “exclusivo” é fácil achar. Não existe tanta exclusividade na World Wide Web e isso, como sabemos, amedronta muita gente.

Após o episódio que culminou com a demissão dos colegas jornalistas, Alec Duarte, então editor-assistente de política da Folha, e a repórter do Agora SP, Carolina Rocha, simplesmente por escancararem uma prática comum no jornalismo via Twitter, a jóia mais “importante” da família Frias não poderia ter chafurdado mais na lama da falsidade e da falta de ética. Tudo fica ainda mais patético porque a decisão contou com o beneplácito de sua ouvidora (ombudsman) Suzana Singer que teria, ao menos em tese, a função de representar os anseios do leitor perante o jornal.

Questiono, por exemplo, o porquê de o editor e do redator que “mataram” Romeu Tuma antes da hora e beneficiaram diretamente a candidatura de Aloysio Nunes Ferreira não terem ido para o olho da rua. Terá sido mesmo um engano? Ou a coisa foi plantada para beneficiar o senador tucano? Mistério? Nem tanto…

Quer dizer então, que uma “barriga” desse tamanho – matar uma pessoa antes da hora – pode e brincar que o material sobre a morte de José Alencar já está pronto não pode? A morte de Alencar era, digamos, algo incerto, mas já sabido. Era só aguardar o momento e seria amador o veículo de comunicação que não tivesse se preparado para o fato. Outras biografias já estão prontas, independente do estado de saúde dos famosos, só aguardando o desfecho, pois como diriam os poetas, a morte é inexorável.

Folha de S.Paulo deve imaginar que seus leitores são imbecis e que eles não sabem quando estão sendo enganados. Eles sabem. É que a maioria desses mesmos leitores não está nem aí para nada e acha que ler a Folha ou sua “prima”, a revista Veja, lhes dá um status plenamente aceito pela nossa sociedade.

Vamos então à listinha preparada pela Folha de S.Paulo para convencer a mim, de que devo voltar a ser um assinante. Após cada item, seguem meus comentários:
1. O mais completo jornal do País
Completo sob qual ótica? O jornal tem uma cobertura razoável no estado de São Paulo e superficial no restante do País, como em Brasília ou Rio de Janeiro. O norte e nordeste do Brasil não existem para a Folha, exceto quando acontece alguma catástrofe.

2. Os melhores colunistas do Brasil
Há gente boa que escreve na Folha, reconheço. Mas a maioria – os “calunistas” da Folha – se acha o dono da verdade, naquela linha “se o mundo não se encaixa na minha teoria, então há algum problema com o mundo”.

3. Uma visão mais ampla dos acontecimentos do mundo
Impossível. Não há nem uma visão ampla dos acontecimentos do Brasil… o que dirá do resto? Quando muito, a Folha vai na linha da visão ocidental dos fatos ou de preferência reproduz textos de agências e colunistas internacionais.

4. Você pode alterar o endereço de entrega por um período, como no caso de férias
Oooohhhhh! O que seria de minhas férias ou de meu final de semana sem a companhia daFolha.

5. Pluralidade de opiniões
Bobagem. Não é porque vez em quando vem um tema “relevante” com uma opinião SIM e outra NÃO, que o jornal é plural. Pluralidade deveria ser vista e usada na apuração dos fatos. Sabe aquela primeira lição do bom e ético jornalismo – ouvir os dois lados – e formar opinião? Esqueça. A Folha já definiu seus mocinhos e bandidos. Eu, por exemplo, como escrevo sobre o funcionalismo público, serei sempre um bandido tentando provar que não cometi nenhum crime.

6. Uma grande variedade de cadernos
Verdade. Cópia do “primo mais velho”, o jornal O Estado de S.Paulo que a Folha sempre “não quis” copiar. Ah… se a Folha soubesse que a maioria lê o caderno de Esportes e o de entretenimento.

7. Análise dos acontecimentos com profundidade
Nada. Cobertura rasa e parcial de tudo. Preferencialmente com a visão “oficialista” para que se dê respaldo e “credibilidade” ao jornal.

8. Transparência nos artigos
Sim. Transparência nos artigos que interessam. Certa vez um amigo me disse: “Quando leio o Estadão, sei qual é o lado deles. Quando leio a Folha sei que eles querem me enganar dizendo que não tem um lado.”

9. Visual moderno, limpo e de fácil entendimento
Fato. O rótulo tem de ser bonito para vender. Não importa o conteúdo.

10. A conveniência de receber seu jornal em casa
… e a ideia de tirar você da banca. Vai que você descobre que existe vida inteligente além dos limites da Alameda Barão de Limeira… Acredite! Há sim vida inteligente no jornalismo brasileiro.

11. Independência
… ou morte. Não há o que comentar. Vender independência no jornalismo é como vender terreno na Lua. Todos defendem uma posição. Só não vale ser hipócrita. Quando faço um texto enaltecendo aspectos da luta do funcionalismo, claro que estou a defender um lado, até porque já temos muita mídia (oficial e extra-oficial) contra. Tento, sem muito sucesso, equilibrar um jogo naturalmente desigual;

12. Liberdade na apuração dos fatos
Nada. Já participei de episódios em que o jornalista até ouviu os dois lados, como manda o figurino. Na hora do texto, depois de editado etc. e tal, a lauda trazia a versão oficial na íntegra e do nosso lado, uma citação, quando trazia. No começo cheguei a questionar os coleguinhas que me explicavam ser culpa do editor e o nível de hierarquia ía subindo. Depois desisti.

13. Referência para você debater assuntos da atualidade
… que é aquele lance que eu falei do status. Tem gente que acha que barzinho bom é só aquele que sai no Guia da Folha. Tem outros que acham que os donos da página 2 do jornal são verdadeiros gurus a proferir a mais arrebatadora verdade. Conheci gente que lia a página 2 daFolha e achava que sabia de toda a verdade universal.

14. Informação de qualidade
… de acordo com os interesses. Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei.

15. Acesso ao conteúdo oferecido pela Folha Digital
Na mais pretensa linha “Pink & Cérebro” e nós vamos dominar o mundo.

16. Descontos exclusivos em coleções lançadas pela Folha
Verdade! O conteúdo pouco interessa. Vamos ao jornalismo fast food. Compremos o jornal e levemos inteiramente “de grátis”, dicionários, CDs, DVDs e outros brindes. Mais ou menos como aquela grande cadeia de sanduíches, que nem paga um salário mínimo a seus escrav… ops… funcionários! Peça seu lanche e leve os brinquedinhos. A qualidade da comida pouco importa.

17. Visão crítica do Brasil e do mundo
… sempre sob a ótica da Alameda Barão de Limeira. Mais uma informação que beira à soberba. A Folha só se lembra do Jardim Pantanal, aqui em São Paulo, quando inunda e de Parelheiros para fazer alguma matéria “cultural” ou de “ambiente”, que mais beira a calhau por falta de assunto.

18. Análise dos acontecimentos sob os mais diversos ângulos
Quanto mais obtuso esse ângulo, melhor. Lembremos que o obtusângulo é um ângulo que tem mais de 90º e menos de 180º, ou seja, algo naturalmente limitado e que não enxerga os 360º dos fatos.

19. Uma linguagem atual, clara e objetiva
Sempre com o intuito de convencer você de que eles são os arautos da democracia, mas de uma forma moderninha, quase um bate-papo.

20. Opção de entrega em um endereço nos dias de semana e em outro nos fins de semana
Volte ao item 4.

Por tudo isso e mais o conjunto da obra não pretendo voltar a ser assinante da Folha ou de qualquer outro veículo. Muito do que relatei acima pode ser aplicado a 95% do jornalismo brasileiro.

A questão da Folha de S.Paulo é a seguinte: nos anos de 1980 ela foi importante ao equilibrar a relação de força com o Estadão. Este representava a opinião da classe dominante. Aquela flertava com as massas e adotava uma postura liberal e moderna. À medida que a Folha foi crescendo transformou-se num braço comprido do poder de plantão, definido por muitos como o quarto poder. O Estadão continua a ser o mesmo. Pegar um exemplar hoje ou de 30 anos atrás, noves fora nada, dá quase na mesma.

Folha perdeu o sentido e perdeu o rumo. Virou uma caricatura de si mesma, despencou sua tiragem de mais 1 milhão de exemplares nos anos de 1990 (nos tempos de Matinas Suzuki e o “Folhão de Domingo”, cópia deliberada do Estadão) para menos de 300 mil hoje, foi ultrapassada ano passado pelo Super Notícia de Minas Gerais, como líder nacional em circulação e agora demite jornalistas apenas pelo óbvio ululante.

Folha não poderia ter ido tão fundo no poço de seu próprio lamaçal.

Agora entendo quando alguns amigos, jovens há mais tempo, diziam-me que não há nada pior “que comunista arrependido”.

Por isso que digo: Folha... Não dá para ler.


Fonte: Limpinho e Cheiroso

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