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sábado, 16 de abril de 2011

Os juros e a jaboticaba


A Folha de S. Paulo de hoje publica um gráfico onde se comparam inflação e juros em diversas partes do mundo.
Como a gente tem comentado aqui, dá para notar que o recrudescimento da inflação é um fenômeno da economia mundial, não da brasileira, apenas.
E decorre, como todos sabem, da imensa disponibilidade de recursos financeiros que, desde a crise de 2008, “se soltaram” das economias centrais rumo aos países que, em meio a ela, em lugar de entrarem em recessão – como ocorreu com os EUA e a Europa – continuaram(ou até aceleraram) seu crescimento econômico.
O impacto em 2009 foi imenso: o PIB dos Estados Unidos,  recuou 2,4%, o Reino Unido,  teve contração de 4,8%, e o Japão fechou o ano com queda de 5%. As economias da Alemanha e Itália também despencaram 5%, enquanto a do conjunto da União Europeia caiu 4,1%, e a do Canadá, 2,6%.
A resposta daquelas economias foi baixar os juros a praticamente zero, o que continuam a praticar, porque o crescimento que tiveram em 2010 sequer recuperou a retração do ano anterior. E, com isso, suas disponibilidades de capital fluíram em busca de taxas de remuneração mais atraentes.
E a remuneração mais líquida e mais direta são as taxas de juros públicas, direta ou indiretamente, pois elas eterminam, também, se as empresas irão se financiar interna ou externamente.
O gráfico ao lado mostra o crescimento do nível de endividamento externo das empresas brasileiras. Não é preciso ser um gênio das finanças para ver o crescimento estúpido destes compromissos. Como eles são, essencialmente, fixados em dólar, fica claro que a elas é interessante um duplo mocimento: a depressão da taxa de conversão da  moeda brasileira (menos reais compram um dólar) e a depreciação interna do real (mais reais por menos mercadoria, incluído o preço do dinheiro, que são os juros).
As medidas tomadas pelo Governo, como todos sabiam – apesar de dizerem ao contrário – cessaram em parte a entrada de dólares de curto prazo (leia-se, menos risco cambial), mas não anularam este movimento. Ao mercado interessa que suba a inflação e  subam os juros.

É só olhar o mapa lá em cima e ver o quanto os juros brasileiros estão descolados da inflação interna. E, se depender do “mercado”, ficarão mais, com a elevação da taxa Selic, na próxima reunião do Conselho de Política Monetária,  na semana que vem.
Como, além da jaboticaba, tudo o que só acontece no Brasil deve ser olhado com atenção, à procura da batata que está entro da chaleira, a pressão por um aumento de juros nada tem a ver com uma “ação natural” da economia. Não é uma fatalidade das regras econômicas e não é a única forma de evitar que a expansão do crédito gere um crescimento da demanda que pressione a inflação.
A inflação brasileira não é de demanda. A inflação é a pressão do mercado, do capital, por condições mais vantajosas para a sua remuneração. E a autoridade econômica que se opuser a isso, ou ao menos não se entregar prazeirosamente a isso, vira alvo de seus mecanismos de pressão: a mídia.
O resto, meus amigos, é jaboticaba.
Fonte: Tijolaço

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