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sexta-feira, 1 de julho de 2011

A opinião de Paulo Vanucchi


Posto aí em cima o vídeo veiculado pela TVT, ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e à CUT, com dois momentos. Um, da crítica cutista à participação do BNDES no negócio Pão de Açúcar-Carrefour. Outro, do ex-ministro Paulo Vanucchi, colaborador de Lula na Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Assistam, ajuda a esclarecer melhor o assunto.

Da polêmica é que sai a luz



Hoje cedo, respondendo a um comentarista que foi muito agressivo, escrevi algumas (na verdade, muitas) linhas sobre este assunto Pão de Açúcar-Carrefour. Vou aproveitar a parte delas que não é pessoal neste post, até porque é muito bom que esteja se construindo uma grande polêmica neste assunto, que permite chamar a atenção sobre o tamanho e a concentração do capital neste setor que é, perdoem o trocadilho, um super-hiper-mercado.
De início, coloco aí ao lado o gráfico, com dados que não se dispunha ontem, quando comentamos, aqui, o assunto.
Primeiro, o valor do faturamento. Os R$ 206,1 bilhões representam, para que se tenha idéia, quatro vezes mais que o faturamento de todo o setor sucroalcooleiro (etanol e açúcar) brasileiro,que está em R$ 50 bilhões.
Bem, o que nós diríamos se este setor, como ocorre com o supermercadista, estivesse com 50% de controle em mãos de empresas estrangeiras?
O que é seria absurdo para o setor de álcool e açúcar não é absurdo para a comercialização de alimentos e artigos de uso pessoal e doméstico?
Porque é isso que ocorreria com a passagem do grupo Pão de Açúcar para o francês Casino, ano que vem.
Quem achar isso bom para o país, tem toda a razão de ser contra o negócio. Quem achar que essa turma não se oligopoliza, que “concorre” livremente, que não negocia vantagens extorsivas sobre pequenas empresas que queiram colocar seus produtos nas gôndolas, que esse mercado é “limpinho e cheiroso”, paciência.
Agora, sobre o negócio em si.
A primeira é que a operação é do Bndespar, que pertence ao BNDES mas não opera os recursos do FAT. O Bndespar é responsável por mais da metade do lucro operacional do BNDES, – R$ 5 bilhões, dos R$ 9 bilhões registrados no ano passado. Tem participação acionária em 170 empresas, e nem todas de infraestrutura. Capta dinheiro no mercado, e não é dinheiro público, vendendo seus títulos – se quiser, olhe aqui a última emissão no valor de R$ 1,2 bilhão.
Estas emissões pagam juros “de mercado”, acima da taxa Selic, que remunera os títulos públicos. É, portanto, dinheiro captado no mercado – não do Tesouro – e não é nem financiamento e muito menos financiamento subsidiado.
O Bndespar tinha, ano passado, ativos de cerca de R$ 125 bilhões, dos quais R$ 100 bilhões diluídos em participações acionárias em quase 200 empresas. O volume anunciado de R$ 4 bilhões é enorme, mas muito pequeno dentro deste universo.
Esta operação estaria sendo totalmente criticada aqui se fosse feita com recursos do Tesouro, como muitas do BNDES o são, pagando juros menores. Aliás, como foram feitas muitas, durante as privatizações do Governo FHC. Ou se estivesse usando os recursos paraestatais que pertencem aos trabalhadores, operados pelo BNDES, como o FAT.
Nem tem nada a ver com os financiamentos  do BNDES a pequenas e médias empresas, que pularam de 27% do total de operações do banco, no ano passado, para 45% este ano, no primeiro quadrimestre de 2011.
Agora, não se entra na selva da economia mundial fazendo papel de “dá licença, moço, que eu sou bonzinho”.
As empresas chinesas – grande parte em joint-ventures com multinacionais – estão se implantando por toda a parte e tornando o país uma grande potência econômica com apoio financeiro de seu governo – aliás, o governo chinês anda feito um mascate pelo mundo, atrás de bons negócios e não me consta que eles sejam do PSDB ou do PFL ou qualquer tipo de “neoliberal”.
Dependesse de vontades pessoais, estaríamos todos defendendo que a economia fosse muito mais fortemente estatizada. Mas não depende e, até, muitas vezes independe da vontade de um governo.
Acho curioso que se reclame do BNDES apoiar um movimento que vise evitar que mais da metade do comércio varejista brasileiro fique sob controle estrangeiro. E que, por mínimo que seja, podemos ter uma plataforma internacional de colocação de produtos brasileiros na indústria de alimentos, que é uma de nossas maiores vocações.
Pessoalmente, não tenho pelo senhor Abílio Diniz nenhuma simpatia. Nem compras no seu mercado faço, aliás, porque prefiro os mais populares. E procurei deixar claro que há, no negócio, um detalhe que, talvez por minha incompetência ao descreve-lo – não tenha ficado claro. É que a operação prevê o fim das ações preferenciais do grupo, que seriam transformadas em ordinárias. O que isso quer dizer? Que acaba o direito de participar do lucro sem participar do capital votante (ações ordinárias) e esse passa a ser totalmente distribuído.
Acho que – de tanto ouvir falar que o Estado é ineficiente e corrupto (e tantas vezes com razão) – cultivamos, sem querer, a ideia de que ele não deve, através de suas empresas, de negócios lucrativos.
Honestamente, se você fosse gestor de um fundo de investimentos de sua categoria profissional, recusaria a oportunidade, em condições vantajosas, de ser sócio de de uma rede de super e hipermercados? Provavelmente, não.
Não se tenta aqui, justificar o injustificável. Não se tenta defender os juros altos, a (falta de) ação do Governo em setores vitais, como é o caso do etanol, ou o receio em enfrentar o “mercado”.
Este blog não é da UDN. Aqui, a gente fala e ouve, debate e tenta esclarecer o que é positivo e o que é negativo, na visão de cada um. Não se parte do princípio – tão usado pela nossa imprensa de direita – de que tudo o que o Governo faz é negociata, enquanto tudo o que o Governo Fernando Henrique fazia era em nome da eficiência.
A direita adora este discurso. Hoje é “absurdo” o Estado entrar no setor de varejo. Ontem, era absurdo na mineração, no petróleo, na siderurgia. Para que? Se isso pode ser tocado pela iniciativa privada?
Pode, sim. Mas não de acordo com os interesses nacionais, se o Estado não puder gerar pressões e participar das decisões. Esta história de “só regulação”, sim, é que é uma balela. Ou deveríamos, entrar, criar uma “Anacado”, Agencia de Reguladora dos Supermercados? Com Cade ou sem Cade, alguém pode negar que a economia brasileira está se oligopolizando?
A economia mundial, hoje, é global. E temos de, dentro dela, nos proteger no que é possível e avançar pelos espaços abertos.
Veja: está errado a Petrobras tirar petróleo no Golfo do México, se os americanos abrem seu petróleo para qualquer empresa privada, de qualquer país? Por este raciocínio, a empresa deveria abandonar as atividades lucrativas que tem por lá e só investir aqui. Mas é lucrativo e o lucro gerado lá ajuda a sustentar o baita investimento que a nossa petroleira faz aqui.
Ao mesmo tempo em que fazemos isso, defendemos aqui o nosso petróleo.
Os chineses, que já citei, também estão investindo em toda a parte – eles têm muito mais capital que nós – mas vá você abrir uma empresa lá para ver se eles não condicionam isso à conveniência do país, à participação de capitais nacionais e a exigências de participação no controle estratégico do negócio.
E o negócio de alimentos e varejo é um grande negócio, hoje fortemente internacionalizado. Passou o tempo em que eram negócios familiares – quem é mais velho, como eu, lembra do slogan das “Casas da Banha, uma família – a família Veloso, de origem portuguesa – a serviço do povo”, que nós, cariocas, rapidamente readaptamos para “uma família (aí entrava um verbo impublicável) o povo”. Ou apelar para os sentimentos de rejeição que, historicamente, temos em relação aos atacadistas, lembrando até da expressão, tão viva nos anos 50 e 60, dos “tubarões da Rua do Acre”, que era como estes comerciantes de atacado eram chamados.
Ser progressista e de esquerda é, para não seguirmos o caminho do insustentável, trabalhar com a realidade. Mantendo os princípios e objetivos, mas sabendo ser flexível na forma de agir. E não confundindo o que são nossos desejos pessoais com a realidade econômica, mas nos protegendo – como país e como povo – diante dela.
Seria fácil entrar em “onda”. Seria mais fácil dizer: “ah, que absurdo”. Ou insinuar – às vezes mais que isso – que há aí uma grossa roubalheira, aproveitando  o fato de que a grande maioria não gosta de deixar seu dinheiro nos supermercados – eu, inclusive – e não tem nenhuma simpatia por eles.
Poderia defender, quem sabe, as quitandas e mercearias – e temos mesmo de defender o comércio local – e “esquecer” que vocês e eu, na hora de fazermos compras do mês, vamos a um supermercado, que se tornou um setor indispensável na vida urbana que têm mais de 80% dos brasileiros.
O Governo Lula entrou em vários negócios de fusão e aquisição e nem por isso a gente acha que é “maracutaia”, embora em cada um deles o exame das condições deva ser obejto de análise e, alguns, de crítica.
Não posso encerrar o post sem registrar que o titular deste blog tem uma visão um pouco menos favorável que a que tenho manifestado aqui, com inteira liberdade.Mas a polêmica é boa, e aprendi com o velho Brizola, que lenha boa é a que sai faísca.
Talvez por ser mais velho, o “mais de meio século” já me tenha feito ver que, sem o Estado, o Brasil é uma vítima indefesa da cobiça internacional.
Ela quer o mercado e, como é um predador que devora só as grandes presas, nos deixa ficar com as quitandas e mercadinhos, enquanto eles não falirem, até porque, sem volume para concorrer e pressionar fornecedores, sem cadeias logísticas que trabalhem em larguíssima escala, elas criam um referencial de preço em que lucrar “um pouco menos que o absurdo” nos supermercados é vender barato.

Fonte: Tijolaço

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