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sábado, 12 de dezembro de 2009

Mangaba, pitomba e petróleo

Não paro de me surpreender com a incapacidade dessa gente que ganha a vida dando palpites sobre tudo sem ter maior noção sobre aquilo que comenta. Com efeito, o jornalista é aquele sujeito que sabe um tiquinho de muitos e diversificados assuntos e, assim, deveria ter mais cuidado.

Alguns entendem isso e são cautelosos ao proferirem seus decretos, mas a grande maioria tenta fazer os fatos caberem em um ponto de vista pré-determinado, e é aí que acontecem desastres opinativos como este que abordarei agora.

Esse colunista da Folha Rui Castro, por exemplo, é escritor. Deveria se manter na ficção ou estudar melhor aquilo que comenta. Escreveu hoje uma coluna sobre a divisão entre os Estados dos recursos do Pré-Sal que não resiste a poucos segundos de contraditório.

Escalado para defender os interesses do Sudeste brasileiro, onde jaz o petróleo escondido sob o leito do Atlântico, ele compara a exploração dessa riqueza com a produção de frutas como a mangaba e a pitomba por Pernambuco, um dos Estados do resto do Brasil que não aceitam ficar de fora dos lucros do Pré-Sal.

Melhor que leiam o que diz o sujeito e depois o meu comentário, que, em palavras que podem ser ditas ou escritas em segundos, mostra que ou o colunista é muito burro – o que não me parece ser o caso – ou é tremendamente mal-intencionado.


RUY CASTRO

Apenas para argumentar
 
RIO DE JANEIRO - O Estado de Pernambuco é responsável por 85% da mangaba e da pitomba produzidas no Brasil. Um abençoado acidente geológico fez com que seu território fosse ideal para a exploração dessas frutas, que são boas de comer ou servem de base para sucos e sorvetes e respondem por boa parte da economia pernambucana.
Pois vamos supor que, de repente, o Rio, que só produz caju e banana, resolva unir-se a outros Estados que também não produzem mangaba e pitomba e, juntos, comecem uma campanha para que os royalties das ditas frutas destinados a Pernambuco sejam distribuídos por igual entre os Estados. A alegação é a de que Pernambuco não é dono do Brasil, que a mangaba e a pitomba pertencem a todos e que cabe à União socializar a dinheirama gerada por elas.

É o que está acontecendo com os royalties do pré-sal. O governador de Pernambuco, à frente de seus colegas do Nordeste, está sendo vitorioso numa campanha para garfar uma gorda porcentagem dos royalties devidos ao Rio como o Estado produtor de 85% do petróleo brasileiro. Neste momento, o Rio pode ter esses royalties reduzidos de 26,25% para 18%, diferença essa que iria engrossar a fatia já considerável dos Estados não produtores.

Nem quero pensar no que aconteceria se o Rio resolvesse avançar nos royalties produzidos pela carne de sol com feijão de corda e manteiga de garrafa, imortal prato da cozinha pernambucana. Ou se fizesse isso com as fabulosas agulhas fritas.

Pelo raciocínio do governador, o fato de Pernambuco produzir os ingredientes que resultaram nessas obras-primas não lhe deveria garantir direitos majoritários sobre elas. Donde a União precisa exigir uma fatia maior dos royalties para comê-los com farinha e distribuí-los entre os Estados não produtores dessas iguarias.


Só uma pergunta: quanto a União investiu na produção de mangaba e de pitomba em Pernambuco? Sim, porque montanhas de recursos que pertencem a todos os brasileiros foram investidas à farta para encontrar petróleo sob a camada de sal no litoral Sudeste do país, mas, ao que me consta, nunca foi criada uma “Mangababrás” ou uma “Pitombrás”.
Crédito

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