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sábado, 31 de julho de 2010

O último falso positivo de Uribe

As denúncias de Uribe caíram no vazio, as provocações de Zé Índio e Serra foram desmascaradas. Para completar, as Farc acabam de lançar um apelo ao diálogo com o novo governo.

Por José Reinaldo Carvalho*
No decrépito e policialesco Estado colombiano o termo "positivo" significa capturar ou eliminar pessoas consideradas inimigas do Estado. Essas capturas sempre foram premiadas com promoções e polpudas recompensas em dinheiro.

Foi esse abominável procedimento do Estado, ligado à Doutrina de Segurança Nacional, o que detonou na Colômbia os "falsos positivos", uma variante abjeta de crimes de lesa humanidade. Como ocorreu no Vietnã ou em El Salvador, na Colômbia assassinam civis para apresentá-los como guerrilheiros tombados em combate.

A exploração pública desses atos criminosos, apresentados como “heróicos”, serviu também para construir uma aura de eficiência da política de “segurança democrática” do regime encabeçado por Álvaro Uribe.

A acusação do insólito presidente, em fim de mandato, à Venezuela Bolivariana aqui arremedada pela mídia pró-imperialista e pela campanha de Serra, é o último intento do governo que já vai tarde de apresentar um falso positivo.


Esgotado o seu arsenal interno de mentiras, o regime colombiano tenta encontrar além fronteiras o pretexto para garantir o continuísmo de uma política falida.

A resposta à altura que recebeu do governo venezuelano, o vazio em que suas “denúncias” caíram na Unasul, a predisposição dos governos democráticos de contribuir para encontrar saídas corretas à crise provocada por Uribe são fatos que acabam revelando a farsa do derradeiro falso positivo. Para completar, as Farc acabam de propor o diálogo ao novo presidente da Colômbia, João Manuel Santos, a ser empossado no próximo dia 7, mesmo considerando que se trata de um continuador do governo atual. Uma solução política para o conflito armado é a essência da proposta feita por meio de um vídeo divulgado pela Agência de Notícias Nova Colômbia (Anncol).

"O que estamos pedindo hoje, uma vez mais, é que conversemos (...) Seguimos empenhados em buscar saídas políticas. Aspiramos que o governo que entra reflita, que não engane mais o país", afirma no vídeo Alfonso Cano, secretário-geral das Farc.

No vídeo, Cano acusou também o governo de Álvaro Uribe de estar "tomado pelo narcotráfico, a corrupção administrativa e a impunidade" e criticou o presidente eleito, Juan Manuel Santos, por proteger seu antecessor "de ser levado a justiça".

Cano disse ainda que a vitória de Santos "garante à oligarquia a continuidade de suas políticas e estratégias" e impõe ao novo governo a tarefa de "recompor o regime político colombiano, porque está cheio de ilegitimidade, porque foi permeado pelo narcotráfico, corrupção e impunidade", afirma Cano.

Alfonso Cano, conhecido como Guillermo Leão Sáenz, assumiu a chefia das Farc em maio de 2008, depois que foi divulgada a morte, por causas naturais, de Pedro Antonio Marín, conhecido como Manuel Marulanda ou "Tirofijo", o fundador da guerrilha mais antiga da América Latina.

O vídeo, apresentado em três partes e com duração de mais de meia hora, foi divulgado pela revista Resistência, que tem um blog na internet, e também pela rede de televisão do Catar Al-Jazira. "O que estamos propondo hoje, uma vez mais, é que conversemos (...) continuamos empenhados em encontrar saídas políticas", afirma Cano no vídeo divulgado.

É necessário ainda verificar o resultado prático da proposta e sobretudo aguardar a reação do novo governo.

Seja como for, é um elemento novo na situação e pode ser útil para uma melhor compreensão dos problemas relacionados com a luta armada no país vizinho, à margem das manipulações.

Na propaganda do imperialismo estadunidense e das forças conservadoras latino-americanas atacar as Farc, inquiná-la como organização terrorista e narco-guerrilheira e estabelecer nexos com os governos progressistas e as forças de esquerda virou um bordão surrado com que se faz uma torpe provocação e se busca criar um ambiente propício a uma radicalização de direita.

Atuando no quadro político a partir de posições sólidas, argumentos lúcidos e propostas consentâneas com o nível da batalha política na época presente, as forças progressistas latino-americanas e seus governos não têm por que perder a serenidade, sem abrir mão do seu protagonismo e da postura combativa na luta para abrir novos caminhos à consolidação da democracia, a defesa dos interesses nacionais e a conquista de direitos sociais para os trabalhadores e o povo.

O prosseguimento da luta armada na Colômbia, situação única no concerto das demais nações latino-americanas e caribenhas onde a experiência de luta das massas populares percorre caminhos inteiramente distintos, nada tem a ver com a existência dos governos progressistas e nenhuma incidência pode ter na disputa eleitoral brasileira.

A guerrilha colombiana é fenômeno genuinamente colombiano. E se o país não foi até agora pacificado é porque as elites do país, especialmente os seus setores mais renitentemente reacionários, instrumentos cegos do imperialismo norte-americano, não consentiram. Não foram poucas as tentativas de promover a paz democrática no país. O próprio governo do ex-presidente Andrés Pastrana, dispôs-se a negociar com a guerrilha, sob atenta e produtiva mediação internacional.

Mas o governo de Álvaro Uribe, decidiu enveredar pelo facinoroso caminho do militarismo, do apoio a bandos de celerados, dos massacres, dos falsos positivos, uma estratégia de cerco e aniquilamento que leva a mais e mais radicalização. Decidiu alinhar-se automaticamente aos planos do Pentágono, ao ponto de ceder o território do país para a instalação de bases militares dos Estados Unidos.

Causa espécie que a mídia conservadora brasileira e os partidos que encabeçam a aliança de direita no país – o PSDB do candidato presidencial José Serra e o DEM, sua força auxiliar – tenham enveredado pelo caminho de respaldar Uribe e justificar as atrocidades que cometeu à frente do governo colombiano e se predisponham a ser porta-vozes de comunicados de guerra. Uma guerra suja e de falsos positivos.

*Editor do Vermelho, com a colaboração de Humberto Alencar, da redação

Assista abaixo as três partes do vídeo







Fonte: Vermelho

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