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sábado, 9 de abril de 2011

China, nação vencedora


A Guerra Fria acabou há 20 anos. Em 1991, a linha-dura soviética, ciente de comandar um império moribundo, tentou impedir o inevitável. Primeiro, com uma última invasão dos países bálticos e meses depois, em agosto do mesmo ano, com o fracassado golpe contra Mikhail Gorbachev. Em poucos meses, entretanto, ficou claro que o conflito entre Ocidente e Oriente chegara ao fim. A Rússia não apenas via seu império ruir, mas experimentaria anos depois um colapso econômico e a proliferação de movimentos separatistas no Cáucaso, acompanhados de guerras e ações terroristas. A entrada em cena do quase czar Vladimir Putin, na virada do milênio, recuperou parte do orgulho nacional. Mas, quando o assunto é Guerra Fria, não há dúvidas: os russos perderam.
Mas quem realmente venceu? Os registros históricos dos últimos 20 anos dão a vitória aos Estados Unidos, ou ao chamado Ocidente. Líderes como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Helmut Kohl saíram do conflito com medalhas de ouro no peito. Duas décadas depois, entretanto, tal vitória parece mais discutível, e um nome alternativo começa a colher dividendos mais permanentes do fim da Guerra Fria. Nos anos 80, enquanto americanos e russos ainda se degladiavam, os chineses absorviam o capitalismo na sua economia, mantendo a política centralizada, sob controle comunista. O que aconteceu todos sabemos: a República Popular da China correu por fora, dominando o comércio mundial e aumentando ano a ano sua influência internacional. Os chineses seguem rumo à posição de superpotência econômica e política, em um mundo que ainda especula sobre como Pequim exercerá esse papel.
Na década de 90, a Guerra Fria deu lugar ao otimismo. Para muitos, ela seria seguida de um novo século marcado pela supremacia de um modelo político-econômico específico: a democracia liberal. O dinheiro seguiria livremente pelas amplas estradas do capitalismo financeiro, promovendo competição e prosperidade, enquanto as elites políticas seriam compostas por meio do voto popular. O movimento de estudantes por reformas democráticas em 1989, em Pequim, sufocado com o que ficou conhecido como o massacre da Praça da Paz Celestial, reforçou a equivocada impressão de que liberalismo econômico e democracia seriam as regras em uma era que chegou a ser chamada pelo americano Francis Fukuyama de "fim da história". É verdade que os valores democráticos ganharam força recentemente, com as seguidas rebeliões no mundo árabe. Mas poucos vislumbram grandes mudanças políticas na ditadura chinesa num futuro próximo. Ou na Rússia, que adotou uma versão de democracia no mínimo peculiar, construída em torno do homem-forte e hoje primeiro-ministro do país, Vladimir Putin. Sobre o liberalismo econômico, sua versão fundamentalista, que reinou por 30 anos, desmoronou em 2008. A ideia do Estado como importante ator econômico ganhou força, e o fato de que a China manda cada vez mais nos rumos da economia global é um atestado de quão precipitada era a previsão de que a iniciativa privada dominaria o planeta. O capitalismo chinês, afinal, segue marcado por grandes empresas estatais e a autoridade do Partido Comunista.


Como muitos dos dividendos esperados pelo Ocidente, após o fim a longa guerra contra os soviéticos, não se confirmaram, é possível argumentar que a avassaladora vitória liberal foi temporária. Vinte anos depois do colpaso soviético, a China parece ter mais condições de cantar vitória em um conflito no qual era apenas coadjuvante. Como mostram as reportagens de Silvia Salek publicadas aqui na BBC Brasil, os chineses, queiram ou não, já se preparam para ocupar um posto de liderança internacional ao lado dos Estados Unidos, ameaçando, inclusive, a hegemonia americana em muitas áreas. O Brasil, cujos poder e influência também aumentaram significativamente nos úlitmos anos, sabe que os chineses são hoje praticamente tão importantes quanto os americanos nas relações internacionais. Dilma Rousseff recebeu Barack Obama recentemente e estará na China para a reunião dos BRICs. Após poucos meses no Planalto, a presidente já terá dialogado diretamente com as duas maiores forças do mundo atual: aquela que riu sozinha por muitos anos e a que pode acabar rindo melhor.

Fonte: Blog do Editot

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